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SERTÃO DE LUTO: MORRE ZÉ DO MESTRE, UM DOS GRANDES GUARDIÕES DA CULTURA NORDESTINA

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Zé do Mestre

O Sertão perdeu um de seus maiores mestres. Faleceu nesta segunda-feira (24/03), no Recife, José Luiz Barbosa, mais conhecido como Zé do Mestre, aos 92 anos. Artesão talentoso e vaqueiro de raiz, ele dedicou mais de oito décadas à confecção de peças em couro que se tornaram símbolos da cultura nordestina, vestindo gerações de vaqueiros e levando a tradição do Sertão para o Brasil e o mundo.

UM OFÍCIO PASSADO DE PAI PARA FILHO

Nascido em 1932, na zona rural de Salgueiro, Zé do Mestre aprendeu o ofício com seu pai, Mestre Luiz, de quem herdou o talento e o nome. Suas mãos habilidosas moldavam gibões, chapéus, perneiras, botas, luvas, chicotes e arreios, peças fundamentais para a vestimenta e a lida dos vaqueiros.

Seu trabalho se tornou referência nacional e internacional. Luís Gonzaga, o eterno Rei do Baião, vestiu suas criações em diversas apresentações. Além disso, suas peças foram adquiridas por presidentes da República, o rei Juan Carlos, da Espanha, artistas renomados e colecionadores. Algumas delas chegaram a ser expostas no Museu Missionário, no Vaticano.

UM HOMEM SIMPLES, MAS DE SABEDORIA INIGUALÁVEL

Mesmo sem ter frequentado a escola como gostaria, Zé do Mestre era um homem de visão. Em sua propriedade na Fazenda Cacimbinha, ele construiu uma biblioteca com 1.200 kg de livros raros, doados por um empresário que atendeu ao seu pedido. Sua casa se tornou ponto de encontro para pesquisadores, estudantes e admiradores da cultura nordestina.

Além de confeccionar peças tradicionais, Zé do Mestre participou de feiras de artesanato como a FENEARTE e eventos em Caruaru e outras cidades brasileiras, vendendo miniaturas e artigos sob encomenda. Suas vestimentas são vistas ainda hoje em vaquejadas e na tradicional Missa do Vaqueiro em Serrita-PE.

UMA HISTÓRIA QUE NÃO SE APAGARÁ

Com sua partida, o Sertão perde um de seus maiores guardiões da cultura, mas seu legado segue vivo. Seu filho, Irineu do Mestre, aprendeu com ele os segredos do couro e continuará preservando a tradição familiar.

Zé do Mestre não foi apenas um artesão. Ele foi um símbolo da resistência nordestina, um mestre da arte em couro e um vaqueiro de coração valente. Sua história está eternizada na memória do povo salgueirense e de todos que valorizam a cultura do Sertão.

Da Redação do Salgueiro Online

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